
Sal e Luz
Mateus 5.13-16
No estudo anterior, sobre as bem-aventuranças, já foi feita uma breve introdução sobre o Sermão da Montanha, e, agora, daremos continuidade ao discurso de Jesus, olhando para o texto que se segue:
Mat 5:13 "Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.
Mat 5:14 "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.
Mat 5:15 E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.
Mat 5:16 Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus".
Logo após Jesus ter ensinado sobre o caráter que um filho de Deus deveria apresentar ao mundo, nas bem-aventuranças, devido ao agir do Espírito Santo em suas vidas, agora ele começa a usar linguagem figurada (metáforas) para ilustrar alguns outros aspectos importantes que nossas vidas, como filhos de Deus, devem apresentar.
- Sal da Terra
Jesus começa o versículo 13 dizendo “vocês são o sal da terra”. O texto paralelo de Marcos 9.50, nos diz: “O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros".”. Então, temos duas ideias aqui: somos o sal da terra, e devemos ter sal em nós mesmos.
- Tendo Sal em Nós Mesmos
No grego, a palavra traduzida literalmente por “sal”, halas (ἅλας), quando usada no sentido figurado, traz a ideia de “prudência” (Strong’s Dictionary #G217). O dicionário define uma pessoa prudente como sendo alguém discreto, moderado ou sábio. Paulo, em Colossenses 4.6, nos exorta: “O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um.”. Nosso modo de agir entre as pessoas de ser sempre agradável e “temperado com sal”, ou seja, prudente, discreto e moderado, o que indica um caráter e uma conduta compatíveis com os princípios que agradam a Deus e que, ao mesmo tempo, não O desonrem perante os homens por causa de nosso mau testemunho. Nesse sentido, podemos certamente aprender muito com Efésios 4.29, que diz:
“Nenhuma palavra torpe [lit. PODRE] saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem.”
Em Romanos 12.1-2, Paulo nos diz para nos oferecermos a Deus como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, e esse seria nosso “culto racional”. Esse tipo de “culto racional”, mencionado por Paulo em Romanos 12.1-2, não é algo que deva ser oferecido a Deus somente aos domingos ou quando vamos à igreja, mas sim em todos dos dias da semana, no nosso dia a dia, onde quer que estejamos inclusive no trato com as pessoas do mundo e da nossa própria família. É verdade! Podemos cultuar a Deus também quando estamos lidando com elas, evidenciando aquilo que Ele produz em nós, inclusive a prudência e a moderação. Esse aspecto de sermos “agradáveis” em nosso modo de falar, e de agir, pode ser em grande parte, aquilo que nos abrirá portas para testemunharmos acerca de Deus às outras pessoas.
- Sendo O Sal da Terra
Podemos destacar também algumas das ideias que essa figura de linguagem usada por Jesus usa para se referir aos filhos de Deus, quando tomada em seu sentido literal, nos ensina:
- O sal é usado para realçar o sabor dos alimentos presentes no meio no qual ele é inserido;
- O sal INFLUENCIA tudo aquilo no qual ele está inserido, em vez de ser INFLUENCIADO;
- O sal transmite suas características, em vez de receber características de outras coisas.
Quando Jesus disse que nós somos o “sal da terra”, ele está dizendo que nós devemos ser aqueles que influenciam o meio no qual se encontram, e não aqueles que são influenciados. Somos chamados por Deus para fazermos a diferença no mundo, e mostrar às pessoas aspectos do caráter de Deus, produzidos em nós pelo Espírito Santo (Filipenses 1.11), de modo que Ele seja conhecido e reconhecido entre os homens e glorificado por eles.
Portanto, quanto ao termo “sal”, vemos que devemos “ter sal em nós mesmos”, ou seja, sermos temperados com a prudência e moderação que somente o Espírito Santo pode produzir em nós, nos tornando agradáveis em nosso modo de agir, e dessa forma podemos ter mais “abertura” para fazermos a diferença no mundo. E nesse sentido, em vez de sermos influenciados pelo meio no qual estamos inseridos, nós é que seremos as influências ali, ou seja, o “sal da terra”, que confere suas características ao meio no qual se encontra. Deve-se destacar que quando estamos lidando com as pessoas do mundo que “amam as trevas” e que são “amigas do mundo e inimigas de Deus”, ao exercermos nossa influência sobre elas, podemos ser aceitos ou tolerados por elas, ou sofrermos perseguição, repúdio etc. O texto de João 3.20, nos diz que “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas.”. Nunca saberemos a reação de uma pessoa do mundo em relação ao evangelho até que apresentemos o evangelho a ela, mas devemos sempre estar preparados para o que vier. O fato é que quando nosso bom proceder é coerente com o evangelho de modo que as pessoas não tenham do que nos acusar, existirá muito menos chance de alguém apontar erros em nossa conduta para justificar sua rejeição ao evangelho ou sua perseguição a nós.
Quando Jesus usa a expressão “se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens”, ele não está querendo dizer que podemos deixar de sermos o “sal da terra” (filhos de Deus e instrumentos usados por Ele) em sentido absoluto, mas sim que se nós perdermos aquilo que parte de nós e que influencia as outras pessoas (o fruto do Espírito – prudência, moderação), nós não serviremos para nada entre elas, senão para sermos rejeitados. Rejeitados no sentido de sermos taxados de crentes carnais, que apesar de serem identificados como sendo “seguidores de Cristo”, deixam de ser influência e passam a ser influenciados pelo mundo, imitando assim a conduta daqueles que ainda não conhecem a Cristo e sendo, consequentemente, ridicularizados como crentes medíocres, desonrando o nome do Senhor. Isso acontece quando a nossa comunhão com Deus é interrompida pelos nossos pecados não confessados, que limitam o agir do Espírito Santo em nós.
- Luz do Mundo
A segunda metáfora que Jesus usa no nosso texto base está contida no versículo 14. Temos contato diário com a luz, seja natural (luz do sol) ou artificial (proveniente de energia elétrica). O fato é que a luz serve para “dissipar a escuridão”, ou seja, para nos permitir enxergarmos aquilo que outrora seríamos incapazes de enxergar por causa da escuridão. Jesus se autodeclara a “Luz do Mundo”, em João 8.12, dizendo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. Em João 9.5, ele disse: “Enquanto estou no mundo eu sou a luz do mundo”. Jesus usa, para se referir a nós, a mesma expressão que ele usou para se referir a si mesmo!
Ele segue seu discurso dizendo “Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.”. Jesus usa certa “ênfase” sobre a impossibilidade de se esconder uma cidade construída sobre um monte, ou seja, num lugar de destaque. Ele diz ainda “E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.”. Acender uma candeia (luz) e a esconder. Seria ilógico acender uma vela, cujo propósito é iluminar o ambiente, e depois escondê-la de modo que a luz que ela emite também fosse escondida.
Jesus nos diz que, pelo contrário, quem acende uma luz, cujo propósito é iluminar o ambiente, coloca-a num lugar apropriado, e dessa forma ilumina “todos os que estão na casa”. É interessante notar que Jesus não diz que a luz ilumina a “casa”, mas sim “os que estão na casa”. Jesus está fazendo aqui um paralelo com a figura do sal, que influencia o ambiente no qual está inserido. De modo semelhante, também somos “a luz do mundo” no sentido de que devemos “iluminar as pessoas” que estão na escuridão, que simboliza, nas Escrituras, a ignorância e cegueira espirituais em relação às coisas de Deus. É como se nós fossemos as luzes que Deus acende no mundo, e que são mantidas acesas pelo poder do Espírito Santo, para levarmos Sua luz maior, que é Cristo, aos que jazem na escuridão, através da pregação do evangelho. Jesus está dizendo que aqueles a quem Deus adota como filhos e comissiona como sendo seus porta-vozes, e que devem carregar e proclamar as boas novas, não devem estar escondidos, mas sim iluminando pessoas, lançando luz sobre elas!
No último versículo de nosso texto base, Jesus nos diz: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. De que maneira a “luz que emitimos” (do grego “luz que procede de vocês”) brilha diante dos homens? Como é que os homens podem ver a luz que procede de nós através do agir do Espírito Santo? Jesus nos diz que é “através das nossas obras”. Fomos salvos “para andarmos nas boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas” (Efésios 2.10). Obras não são causa, mas consequência da nossa salvação em Cristo através da fé (Efésios 2.8-9), e são produzidas pelo próprio Deus em nós para Sua glória (Filipenses 1.11).
É extremamente importante destacar que sempre que as Escrituras nos falam sobre “boas obras”, elas nos apontam para ações que são consequência do agir do Espírito Santo em nós, transformando nosso caráter segundo seu fruto: “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.” (Gálatas 5.22-23) Quando o fruto do Espírito está sendo produzido em nós e transformando nosso caráter, nossas ações serão apenas reflexos externos do que há em nosso interior. É dessa forma que Jesus nos diz que os homens verão a luz que procede de nós, mas que tem origem primariamente em Deus. As pessoas verão nosso agir, fruto de nosso caráter transformado, e nisso glorificarão a Deus. É dessa forma que nossa “luz” brilhará diante dos homens, ou seja, através de nossas ações compatíveis com nossa fé e totalmente opostas à mentalidade do mundo, que poderemos impactar pessoas e sermos testemunhas fiéis de Cristo aos homens. Pregar o evangelho com palavras, muitas vezes, pode não significar nada. É o que Tiago 2.14-26 nos ensina: que nossas ações devem ser compatíveis com aquilo que expressamos em palavras. Do contrário, só conseguiremos gerar ainda mais descrédito e ceticismo nos homens que ainda não conhecem o poder de Deus.
E a conclusão do versículo é que Deus será glorificado quando os homens virem nossas obras. Aqui cabe uma explicação muito importante. Segundo 1 Coríntios 10.31, tudo o que fizermos deve ser feito para a glória de Deus, e isso fala a respeito da nossa motivação e do alvo de nossas ações. Porém, aos olhos do mundo, quando as pessoas nos veem fazendo nosso trabalho bem feito, elas jamais pensarão que estamos fazendo isso por Deus, mas, tendo elas a mentalidade do mundo, elas muito provavelmente pensarão que fazemos as coisas bem feitas para sermos reconhecidos, recompensados e, no fim das contas, sermos aqueles que receberão a glória por causa daquilo que fizemos. O que quero dizer é que, aos olhos do mundo, sem que eles saibam de fato a “quem estamos servindo” (Colossenses 3.17, 24), de nada adianta nosso “bom proceder” no sentido de “impactar pessoas” de modo que eles, que não conhecem a Deus, “glorifiquem a Deus”. Devemos deixar bem claro a quem estiver a nossa volta, a quem nós servimos, para quem trabalhamos, e a glória de quem estamos promovendo com as obras de nossas mãos.
“Façam tudo sem queixas nem discussões, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida.” (Filipenses 2.14-16)
Ainda nesse sentido, quando lemos, dentro de seu contexto, o versículo 16 de Mateus 5, aliado aos versículos 10-12, que é a oitava bem-aventurança, podemos entender melhor o que Jesus quis dizer. A oitava bem-aventurança fala sobre “perseguição”. Para o mundo, o normal seria que alguém, quando perseguido, revidasse, se irasse, buscasse vingança etc. Porém, quando somos perseguidos e, ainda assim, continuamos com a alegria que somente Deus pode produzir em nós, as pessoas do mundo tendem a olhar para aquilo sem entender como isso pode ser verdade. A sabedoria de Deus é loucura aos olhos do mundo, porque ela nos leva a agir de maneira totalmente contrária ao “normal”. É nesse momento que nossa “luz” está mais propícia a “brilhar sobre os homens” de modo que eles vejam o poder de Deus em nós e O glorifiquem através de nosso testemunho verbal compatível com nossas ações.
“Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.” (1 Pedro 2.12)
- Conclusão
Dentre tudo o que vimos até aqui, podemos destacar vários aspectos práticos desse trecho específico das Escrituras em nossas vidas:
- Devemos “ter sal em nós mesmos”, ou seja, estarmos sendo “temperados” com o agir do Espírito Santo em nossas vidas, produzindo em nós seu fruto, que transforma nosso caráter e transborda externamente em ações, que não somente evidenciarão aos homens nossa fé e o poder de Deus em nós, mas também redundarão em glória a Ele;
- Devemos ser o “sal do mundo”, nos tornando atraentes e “saborosos” às pessoas pelo nosso bom proceder, de modo que elas queiram ouvir de nós sobre o que há de diferente em nossas vidas e serem influenciadas por aquilo;
- Devemos influenciar positivamente, com a verdade de Deus, o ambiente no qual estamos, em vez de sermos influenciados, não somente com palavras, mas principalmente com ações;
- Devemos buscar uma comunhão plena e constante com Deus de modo que o agir do Espírito Santo esteja sempre presente em nossas vidas, produzindo seu fruto, para que jamais deixemos nos influenciar pelo mundo. Quanto maior a ação do Espírito Santo em minha vida, menor será a ação do mundo sobre ela;
- Devemos ser “a luz do mundo”, não escondendo dos homens a luz que procede de nós. Devemos fazer brilhar sobre o mundo a luz de Deus através da pregação do evangelho da graça, que deve ser acompanhada por uma conduta compatível com nossas palavras, pois somente o evangelho pode remover a cegueira e a escuridão espiritual dos olhos e do coração das pessoas;
- Devemos ter em mente que nossas boas obras nunca são a causa de mudanças em nosso caráter, mas sim consequências das mudanças que o Espírito Santo opera em nossos corações;
- Devemos ter em mente também que nossas obras nunca, jamais, devem ser praticadas com a motivação de promover nossa própria glória, mas tão somente a de Deus perante os homens;
- Devemos nos humilhar perante Deus a cada dia, e humildemente, reconhecermos que somos dependentes dEle e que estamos aqui, neste mundo, para fazermos a Sua vontade e não a nossa. Nesse sentido, devemos buscar, dia após dia, uma comunhão plena com o Pai, pois somente dessa forma, poderemos não somente influenciar homens positivamente com nossa conduta ética exemplar, mas também fazê-los glorificar a Deus quando confessamos que Ele é não somente a motivação por detrás de nossas ações, mas também o Senhor de nossas vidas e a razão pela qual vivemos, nos movemos e existimos.
- Para Refletir
É influencia saborosa nos meios em que vive? Ou são as pessoas do mundo que transmitem suas características a você?
Seu proceder é compatível com os valores cristãos que Jesus quer que tenhamos? Ou as pessoas poderiam facilmente apontar algo em sua conduta que Deus reprovaria, revelando seu mau testemunho?
Você tem feito sua luz brilhar entre os homens por meio do seu agir (boas obras) que são fruto do agir do Espírito Santo sobre seu caráter?
Qual é a sua motivação em obedecer? Obrigação ou gratidão pelo Deus fez por você? Medo de castigo? Questão de consciência?
A glória de quem é o alvo de suas ações? A sua própria glória, ou a glória de Deus?
“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.” (Romanos 11.36)
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O homem no Buraco!